terça-feira, 11 de novembro de 2008

FLOR DE eLIS

Sufocada entre as plantas com mais viço ela dava os primeiros sinais de renascer. E renasceu. No vaso, morada da flor, aquele vazio desmedido cedia lugar à mágica do reencontro. Do corpo com a alma. E a flor de bananeira, aquela que você um dia definiu como de rara beleza era agora flor de (e)lis. Mutação genética? Transgenia? E você que me diz que não sou mais a mesma não sabe o quanto tem razão. Mas a essência permanece intacta. Existe uma fórmula ainda intocada, algo além do perceptível, do mutável, imagem da perfeição imperfeita que aos poucos se revela, se desnuda. O espelho interior que se desembaça mostrando o que é invisível aos olhos, visível apenas ao coração. Essência cujo amontoado de moléculas armazena memórias de tantas vivências, precedida portanto por existências. E esse exercício metafísico, esse meu esforço de pensar com clareza, desejo confuso entre questões e palavras é porque eu entendo pouco da vida, quase nada de mim. Me perco, me encontro, me desgoverno, me assumo. Insana, as vezes. Tranquilizo, eu sei que essa clareza de realidade é um risco. Clarice também sabia. "Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
A flor? Aquela cuja essência é seu perfume, sabe que os espinhos guardam sua fragrância. E que a morte é seiva que alimenta a vida. Mais nada.

4 comentários:

  1. uia! Lindo isso... gostei!
    Parabéns Elis!

    Abraços

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  2. Cada vez melhor, Elis. Bravo! Sinta-se aplaudida. Beijo grande.

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  3. é uma F-elis... cidade ler teus escritos, amiga E-lis... Um abração.

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  4. "O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida."

    Mas não é que é mesmo?

    Ótimo, Elis.
    Beijos

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