terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008 - Uma retrospectiva pessoal

Não costumo planejar muito. Gosto mais do acaso, embora acredite que o que recebo como acaso, já tenha sido escrito em alguma das muitas agendas passadas que possivelmente rabisquei. De qualquer forma minha meta de vida hoje é ainda me surpreender. Vivo com integridade e trabalho com dedicação, não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço, estabeleço poucas datas, as imprescindíveis para superar o caos. E aguardo. (As sessões de reiki tem me ajudado nessa empreitada, conviver sem tanta ansiedade)
Esse ano foi um ano de algumas conquistas. Se tivesse que defini-lo numa palavra diria que foi o ano das parcerias.
Profissionalmente comecei março com o encontro presencial realizado com a Apae de Joaçaba, depois de um ano de intercâmbio cultural (virtual). Um momento emocionante que selou minha amizade com a professora Janete com nossa ida pra vizinha cidade que tem o melhor carnaval do sul do país.
Um problema de conexão me manteve "fora do ar" até junho (trabalho emperrado).
Em junho, um novo projeto de intercâmbio envolvendo escolas especiais de Santa Catarina, Rondônia, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco.
Em agosto, através de uma parceria com a empresa Transforming, representante do Inspiration no Brasil, (software para criação de mapas mentais) recebi do Senhor Ricardo Amoroso, diretor da empresa que se interessou pela minha pesquisa e utilização do software com crianças com deficiência, uma licença gratuíta para poder utilizá-lo em rede no laboratório.
Em final de setembro, com muitos projetos em andamento e feliz com os resultados, recebi um convite para assumir uma nova função na escola.
Em novembro, a segunda etapa do encontro presencial e a vinda dos alunos de Joaçaba para Curitibanos, com um roteiro turístico de visitação e atividades de confraternização entre os alunos. (Emoções - parte 2)
Com o coração apertado por interrromper meus projetos e deixar meus pupilos, em novembro assumi o novo cargo.
Fiz amigos queridos e parcerias rentáveis. Vi meu filho crescer numa esperteza só e meu marido trabalhando mais do que sempre.
Termino o ano feliz, com algumas idéias em mente e uma única certeza. Um ano novo se inicia e eu quero poder vivê-lo intensamente.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

The End (or not)

Foto: Natália Lages

Que passem
Que venham outros
Não gosto de contar os dias
Gosto é de contar histórias.
Alguém apagou a luz e eu acabei gostando desse escurinho...
Tudo por conta dessa mania do blogger de ter vontade própria e não ajustar minha imagem aí em cima.
Ano novo, cara nova!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Túneis no feno

Faz tempo...E a menina que adorava construir túneis no feno, cresceu.
Armazenado no galpão do avô, uma montanha do pasto que alimentava os animais era a um tempo só, passatempo e ofício de desbravar emoções. Inúmeros labirintos se formavam e entre ataques e esconderijos, a tentativa de encontrar a saída sem ser capturado. As horas eram breves e os dias curtos. Suficientes, porém para viver toda a intensidade das pequenas grandes coisas que humanos definem como inesquecíveis.
Era a capacidade de surpreender-se a cada novo percurso que a envolvia, era a escuridão da trilha e a emoção de enxergar a luz ao final, era a aventura de não saber, que tornava o marrom dos seus olhos ainda mais brilhantes. Os labirintos entrecruzados não permitiam visualizar quem iria encontrar e nem onde eles iam dar.
Hoje, quando debruçada sobre as tardes longas e a mesa tomada por papéis e livros, ela se dá conta que rotina é nada mais que saudade de brincar nos túneis de feno.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Camaleoa

De dia, é (cozinha), uma gata-borralheira
De noite, muda de roupa,
fica cor da pele
Se camufla entre os lençois
É (cama) leoa.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Da minha leveza

(Desconheço autor da foto)

E dos verões que chegaram e dos que partiram... Troquei o vento norte pelo vento sul e descobri que escolhas são inevitáveis. O céu de hoje recobrou o azul das tardes em que o sorriso colava em minha boca e eu ria e ria e você me falando das gostosuras da vida. De um tempo que de tão doce impregnou-se, cheiro, sabor e textura. Um linha tênue separa o que foi do que é. Tudo é meu presente. Tudo é paisagem inédita, sempre. Se vivo de sonhos é porque as nuvens são meu chão firme. Minha leveza é a dos sonhos. Tenho culpa se o mundo que eu quero não cabe nesse que eu vivo? Se meu mundo é belo, mesmo antes de ser verdadeiro?
Minha carência é da emoção que os sonhos que me dão. Porque todos os dias são azuis mas eu prefiro os que são mais azuis que os outros. Eu não quero chegar a lugar nenhum. Eu só quero pernas bambas, boca trêmula, palavras que não saem, coração em descompasso. Até o caos me é bem vindo quando fico excessivamente cósmica, e desejo-me inquieta, bagunçada inteira. Quase uma obrigação de me sentir viva ou fazer algo que quebre essa rotina insana que se impõe assim. Assim, como quando olho para o infinito e dou de cara com o fim.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Porque viver não é preciso

Não gosto de muros
nem cercas - vivas ou mortas
paredes me causam asfixia
gosto da imensidão
de tudo que está além do toque
fora do ângulo de visão
Gosto do mar sereno
que deságua num mistério sem fim
gosto de quando navego
nas águas dentro de mim.

domingo, 21 de dezembro de 2008

De tudo e do nada

Foto: Geisa

E o que era fluídico, foi ficando rarefeito e volátil dissipou-se.
Dor, agonia.
Máscaras de oxigênio, massagem cardíaca, um último suspiro e a morte.
Restava a solidez da verdade. Doída, densa, compacta, cruel.
Sobraram resquícios líquidos de um amor que não vingou. Sobraram lágrimas de quem partiu sem nunca ter chegado. Duas taças e uma garrafa de vinho esperarão pelo nosso derramamento. Sobraram lágrimas de um funeral. Sobrou a saliva de gosto amargo na boca e a tão amarga constatação de que nada fora tão sólido quanto parecia... Sobrou um adeus. Sobrou uma vontade inútil de ficar um pouco mais. Chamam isso de saudade. Sobrou uma inscrição sobre a lápide: Aqui repousa um coração triste que viveu um grande amor.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Mulher bomba

Dessa vez ele fora longe demais. O casarão dos tatatataravós?!?! Ah não! Tudo bem que o apartamento fosse uma caixa de fósforos , mas já havia falado, estava escrito no manual da esposa sem crise que ele bem conhecia, (preservado algum infortúnio - que Deus a poupasse) só sairia dali pra um lugar mais decente. Claro, ele estava brincando! Bebeu um rabo de galo, era isso. Sempre soube do seu amor pelas coisas da família e pelas quinquilharias preservadas com veneração, mas definitivamente não, eu não tinha nada com isso.

O casarão que lhe trazia as boas lembranças da infância pra mim não passava de uma tapera velha, escura e mal assombrada, sinistramente decorada com uma parede inteira de velhos barbudos e velhotas corcundas enfileiradas, que pareciam me olhar como quem dissesse: "Olá tatatataranetinha, você ainda vai morar aqui!" Arre! Sai de mim!

Uma, mais do que as outras me causava arrepios. O olhar me atravessava a alma deixando os pêlos do meu corpo eriçados. Era uma velha com longas madeixas acizentadas presas desageitadamente num coque no alto da cabeça. O rosto retamado de vincos era uma textura de papelão amassado. A cabeça levemente abaixada e os olhos mirando à frente sabe-se lá o quê pareciam me procurar. Eu evitava-os. Mas, por vezes, os meus esncontravam com os dela, fulminantes. Sem fazer questão de manter o foco meu olhar dissipava-se, procurando algo menos nefasto.

Mas até a lembrança deles me causava pavor.

Manti-me concentrada no jantar, apenas ouvindo. Ele eufórico.

Empolgado, ele falava em como disporíamos os móveis e nos gastos que teríamos na reforma da varanda...
Quem ele pensava que era, passando assim, como um trator por cima dos meus sonhos! Sonhos que muitas vezes tivemos juntos!

Auto controle era uma das minhas qualidades. 1, 2, 3, 4, 5....
Ele sabia disso, estava me testando. Me esforcei.
_Baixa o som dessa TV por favor!
_Calma benzinho! Não teve um bom dia hoje?
Fiz de conta que não ouvi.

Ele continuou:
_Meu bem, você precisa ir lá ver. Quem sabe uma faxina... As paredes da sala estão tomadas de teias de aranha...

Continuei de costas, concentrada no meu picadinho.
_ Você também pode pensar numa decoração diferente para a sala, só não pode mexer nos quadros.
1, 2, 3, 4, 5... Explodi.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Inatingível

Ela era doce, ele diabético
Ela uma flor, ele alérgico
Ela o arco-íris, ele daltônico
Ela o sol, ele albino
Ela a luz, ele cego
Ela o ar, ele asmático
Ela poesia, ele analfabeto
Ela música, ele surdo
Ela uma deusa, ele ateu
Ela um tesouro, ele um mendigo.
Ela surreal, ele lógico
Ela absoluta, ele relativo.

Amaram-se e viveram assim. Distantes.
E porque distantes, eternos amantes.
E porque inatingível, o grande amor.

Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas! (Mario Quintana)

Cá entre nós (eu e meus eus)

(Desconheço autor da foto)

Há aqueles pra quem a palavra dita,
é como oásis para a alma sedenta...
Eu prefiro a palavra ecoando
A que passa, transpassa
tácita, soturna, hermética
Propagando-se entre as linhas
Dessa página em branco.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Da fúria

A natureza indócil se abala
O incauto sofre sua fúria
E sob olhos encharcados
de líquidos vermelhos barrentos
os corpos se mesclam...
Os olhos não crêem
Os olhos usam vendas...
Pseudo deuses do universo
dominam as regras dos homens,
Mas desconhecem as leis da causalidade
Que olhos perplexos agora lêem
em letras de lama, sangue e lágrimas.


Ps.: Nosso Estado está se refazendo e voltará em breve a ser a nossa sempre Santa e Bela Catarina.

Pensamentos soltos

Por não desejar ser eu mesma o tempo todo, por isso escrevo. E quando escrevo sou várias.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sobre o tempo (e o amor)

Foto: Elis Zampieri

E eu descubro a paz quando você me olha e teus olhos são como os meus. Eles me contam do tempo que tinha seu tamanho e seus sonhos e de quando meus pensamentos viviam em férias. Mas eu já caibo inteira no seu abraço. E eu te vejo agora construindo lógicas, falando de foguetes e naves, de dinossauros e capitais. Tão pequeno que quase cabia nas minhas mãos abertas, desejosas de ser coração e delicadeza pra poder tocar tanta fragilidade. E eu te sentia tão meu. Hoje você é vida que me escorre. Mas você compensa amor com amor e me faz ver que o tempo amadurece o fruto e o sol deixa-o ainda mais doce. E porque a natureza é velha e sábia senhora, eu busco a intensidade que ela me oferece ainda que a brevidade me roube a sensação do vento que brinca com os meus cabelos numa tarde quente e do sabor do seu beijo e da sua boca sugando meu rosto. Porque tem coisas que duram apenas uma eternidade. E enquanto o tempo te leva pra passear eu junto letras para embrulhar esse pacote de lembranças e me perco olhando as pétalas que voam. Elas já me perfumaram as mãos e "por desfolharem-se é que não têm fim". (Cecília Meireles) E eu vivo dessa magia que transforma pétalas amarelecidas em buquês de saudade.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Senhora Chiquetosa

Equilibrando-se elegantemente no scarpin caramelo, ela reclama da micose que lhe tomara os dedos dos pés e que se proliferava rapidamente nos últimos dias. Alguém aconselha:
_Creolina!!! É um santo remédio! E desabafa esses pés, se não queres perder os dedos!
_Creolina??? Mas isso lá é remédio de gente?
_É, de gente não é não, mas cura.
Era a segunda pessoa a lhe falar isso. A enfermeira da farmácia do seu Manoel já havia feito a indicação, sinal de que o germicida fétido era mesmo eficaz. Convencida, dirigiu-se até a lavanderia encarregando a faxineira do tratamento diário dividido em duas sessões. Logo pela manhã e à tarde.
Pelo corredor, no seu toc-toc personalizado, reconhecível até mesmo quando substituído por um único toc de passo manco, no seu andar refinado ela adentra a sala da direção com o sapato de bico fino na mão. Alguém reclama do cheiro insuportável que se alastra por onde passa. Ela não perde a pose.
Reaparece na sala com um frasco de pomada nas mãos, senta-se na cadeira de estofado cor de abóbora, e começa a massagear o ombro direito, acometido segundo a própria, por uma bursite daquelas de tirar o sossego. No rótulo da embalagem lia-se: CALMINEX, uso veterinário. Indicação da avó.
No dia seguinte, pede para a secretária fazer uma ligação, marcando uma consulta com a doutora Camila.
De pronto ela toma a agenda e completa a ligação. Do outro lado da linha uma voz suave atende.
_Clínica Veterinária Cães e Cia bom dia! Em que posso ajudá-la?

domingo, 30 de novembro de 2008

A quoi ça sert l'amour

foto: Ornella Erminio

Maldito tempo
que me fez esquecer de ti.
A dor que agonizava esse peito
Agora jaz no seu leito de morte.

Esse amor que me fez assim
Uma tristeza feliz
Uma dor querida,
Uma alegria doída
Com lágrimas nos olhos
E sorriso nos lábios...

Valia mais
Do que esse meu corpo frio
que esse peito vazio
de sensações, carente
desse nada sentir insistente

E se não sinto
tenho medo
dessa inércia na minha pele.
Dessa inútil quietude
Dessa paz já sem razão.
Na contra mão da plenitude.

Minh'alma reclama por vida
Me desejo em fragmentos
pedaços de dor ou saudade
Qualquer coisa
Que ainda me faça sentir inteira.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Incerto

Se seria mais completa, se seria mais feliz, se seria melhor, se seria...Palavras ao vento...
Se desconheço as letras no verso da página, se já esqueci o começo dessa história... importa agora, o instante, vivido, sentido mesmo que sem tido. E porque viver não é preciso, sou dada a recomeços. Se te causa estranhamento esse meu ângulo de visão, é porque ele as vezes é obtuso, as certezas inespressivas. Ninguém pode medir suas perdas e colheitas. Eu também não. Se falei o que não devia é porque costumo perder palavras por aí, umas me escapam, atrevidas, impulsivas ou desnecessárias, como estas que me dirige agora. Algumas teimosas, insistem em querer guarida nessa memória já sem leitos. Para estas afixei uma placa com os dizeres "não há vaga", elas estão indo embora, as vezes pelos olhos. Outras, livres de ambições, sobrevivem desse meu impulso em dar-lhes expressão. Eis o que faço. Você desejoso de me fazer pensar e eu, requerendo apenas um lugar para armar minha rede à sombra, e descansar. Meus anjos agora dormem, dormem também meus demônios. Fale baixo, por favor. E ouça a poesia que eu fiz, agora as palavras só querem te dizer: Psiu, fica do meu lado.

sábado, 22 de novembro de 2008

Brainstorming

Aquele olhar paralizou-a por inteiro, (amor)tecendo seu coração. Puro ar-dor. Res(pirou) e morreu.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Musicalizando

És morada do verso
habitada de poesia
tão doce é tua voz
nas formas, só melodia.
Ah menina quando passas
desfilas talento e graça
pois sabes que mora em ti
cadência em dó, re mi.

Tens a beleza da flor
a leveza da pluma
e a sutileza da bruma
Tão belo é teu cantar...
Mas menina, quando passas
Não posso deixar de notar
teu corpo é pura malícia
nos acordes do teu caminhar.

Cifras, letras, harmonia
formas, corpo em simetria
Ah menina quando passas
nesse andar assim, garboso
esse compasso gostoso
são notas a rebolar.

Eu canto essa beleza
tão ingênua e delicada
E o pensamento divaga
dedilhando uma canção
nesse corpo violão.

domingo, 16 de novembro de 2008

Silêncio... ou Pensamentos Soltos

Diluiu-se em lágrimas todo nosso querer, volatizaram-se nossas vontades. E nada mais que seja dito faz sentido, embora haja um desejo que insiste em dizer do que nos fez um dia. Calemo-nos. O silêncio falará mais por nós do que essa algazarra ecoando no vácuo de nossas lembranças.
***

terça-feira, 11 de novembro de 2008

FLOR DE eLIS

Sufocada entre as plantas com mais viço ela dava os primeiros sinais de renascer. E renasceu. No vaso, morada da flor, aquele vazio desmedido cedia lugar à mágica do reencontro. Do corpo com a alma. E a flor de bananeira, aquela que você um dia definiu como de rara beleza era agora flor de (e)lis. Mutação genética? Transgenia? E você que me diz que não sou mais a mesma não sabe o quanto tem razão. Mas a essência permanece intacta. Existe uma fórmula ainda intocada, algo além do perceptível, do mutável, imagem da perfeição imperfeita que aos poucos se revela, se desnuda. O espelho interior que se desembaça mostrando o que é invisível aos olhos, visível apenas ao coração. Essência cujo amontoado de moléculas armazena memórias de tantas vivências, precedida portanto por existências. E esse exercício metafísico, esse meu esforço de pensar com clareza, desejo confuso entre questões e palavras é porque eu entendo pouco da vida, quase nada de mim. Me perco, me encontro, me desgoverno, me assumo. Insana, as vezes. Tranquilizo, eu sei que essa clareza de realidade é um risco. Clarice também sabia. "Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
A flor? Aquela cuja essência é seu perfume, sabe que os espinhos guardam sua fragrância. E que a morte é seiva que alimenta a vida. Mais nada.

sábado, 8 de novembro de 2008

Nua e crua

Levava na mala
um chinelo, botas, um par de tênis
vestido estampado pro calor
camisola estilo provoca-dor
A blusa vermelha tomara que caia
um jeans, uma minissaia
Meia duzia de peças
De resto, só seu amor.
Dormiu
Acordou
Mudou o curso
Desfez a mala
agora vazia de sonhos.
Uma mala, uma alma
E um vazio.
E como ela, mirando-se no espelho
A verdade estava ali,
nua e crua.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

...Foi quando a poesia se me revelou terapia eficaz para conformar-me ao "mundo adulto" e uma forma de permitir voz a um outro eu, que, às vezes, quer conversar comigo. (Fred Matos) Foi ele quem disse mas poderia ter sido eu...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Tempus Fugit

Era pra ser uma história,
uma crônica
um poema...
Qualquer coisa que dissesse do tempo,
tão escasso
volátil, consumido.
Não houve tempo.
E tudo ficara tão breve
limitado, resumido.
Impiedoso.
Assassino.
Matara sem dó
sem remorso, nem sentido
um poema
ainda tão jovem
morrera,
recém nascido.

sábado, 1 de novembro de 2008

F-Elis

Porque eu precisava de uma nova morada e de ficar mais uma vez (e)namorada. Quanto tempo abandonada de sensações...brisa mansa, pés descalços, poeira depois da chuva, poesia bem escrita... sentindo saudade dessa paz adentrando os poros, que de tanto tempo distante já havia esquecido o caminho de volta, desse sossego de alma, que me faz acerenar, olhar e ver, escutar e ouvir, perceber e sentir, respirar sentindo meus músculos relaxarem..

Eu esperei, ela chegou. Agora estou um dia de sábado depois da faxina. Quando arrumei minha casa de dentro encontrei a leveza. Sensação cósmica que combina com o barulho das ondas, com a risada das crianças que brincam na calçada, até com o vento minuano que assovia teimosamente na minha janela e que já fez par à minha melancolia.


Quando o sol mapeou o chão deixando-o seco e árido, dele nada mais brotou. As palavras saiam mudas, os versos sem melodia. O que havia era só um dialeto estranho, irreconhecível, indisível. No olho do furacão não havia equilíbrio, perdendo-me entre papéis e alucinações. Hoje faço da dor um poema, acalanto para um coração inquieto, canção de ninar para um corpo em lassidão. E semeio versos que germinam com o cair de algumas gotas de inspiração enquanto
confidenciam desse meu caos interno. Porque quando mudei-me de casa eles vieram morar comigo. Hoje moram em mim. Convivemos em simbiose. Nos damos vida.

E eu tive uma recaída. Amor antigo... Por mim. Talvez dure apenas até a próxima primavera. Talvez não sobreviva até lá. Pouco importa. As noites solitárias de inverno e o desafeto que por vezes nutro por mim serão novamente bem vindos. Que dure o tempo que durar, a intensidade sobrepõe-se ao tempo. Se real palpável ou real no plano das idéias. Já disseram, também penso: "Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam". Tudo que é, independente do espaço que ocupe, existe. Descobri que amo assim. E o amor, de qualquer forma me faz viva. Me faz F-Elis.(Em homenagem à Fá e à Mimi)

Saudade...

E era só mais uma saudade...
Já não mais doía
Já nem tão inconveniente,
Daquelas que o pensamento busca,
A boca sorri,
O coração sente
E a memória guarda...
Para sempre.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Escuta...

Eu queria falar disso. Procurei palavras, elas as vezes gostam de brincar de pique-esconde comigo, somem e encontram o esconderijo perfeito. Mas as mesmas que me faltam, me fartam. Uma última tentativa.
Porque na verdade isso tudo é uma grande brincadeira. Esquece tudo, vamos brincar. Se desarma, baixa a guarda, desata o nó cego que amarrou nesse seu coração. Acredite. A vida não é só isso. Se permita. Não se omita. Não dê as costas à ela, encare-a. Sofra, chore, vista-se de luto. Mas vá riscando no calendário todos estes dias com a certeza que depois destes virão outros e mais outros em que você acordará e verá o mais lindo nascer do sol e cantará a cantiga mais bela e abrirá o sorriso mais largo, e abrirá a janela do seu quarto e se abrirá finalmente para a vida.
Reconheça sua transitoriedade, não a deixe escorrer pelos vãos de seus dedos. Agarre-a.
Deixa esse breu de tristeza pra depois, é preciso a-cor-dar. Uma restia de luz colorida em tons de intensos a suaves teima em entrar pela sua janela. Abra-a. Respeite suas lágrimas mas apaixone-se pelo seu sorriso. Eu já me apaixonei.
Esqueça os relógios. A vida tem seu tempo. Pare. Preste atenção. Ouça apenas o seu tic tac, respeite seu ritmo. Não se adiante, não se atrase nem se cobre demais.
Vamos continuar a escrever sua história. Colocamos uma vírgula, pontos de exclamação. Esquece as interrogações. A certeza é o ponto final, o fim da estrada, e nós estamos a caminho. . Se não souber o que fazer com elas, podemos fazer poesia. Mas acredite, a completude pode estar nesse imenso vazio que há em nós.
Solte o cinto, afrouxe a gravata, desfaça o laço, solte os braços, tira essa vinca da testa, da cá um abraço. Conta uma piada, fale-me do seu dia... vamos rir. E quando enfim, a vida der sinais de cansaço a gente pare, olhe para trás e a lembrança das coisas boas que vivemos nos faça sorrir e sentir saudades.

domingo, 26 de outubro de 2008

Essa tal liberdade

E aí você já não sabe o que fazer com ela. Logo você que tanto a desejou. Imaginou-se dona do seu nariz, livre e totalmente responsável por suas decisões, suas escolhas e seu destino. Nesse tempo você nunca se imaginou querendo alguém para decidir por você, na verdade você sempre abominou isso e só aceitava uma intromissão desse tipo se vinda de alguém que julgasse ter esse direito e não sem uma boa tentativa de negociação. Esse tempo vai longe. Você cresceu, conquistou sua tão sonhada liberdade e agora se vê diante de situações em que desejava por alguns instantes não a possuir.

Mal sabia você nessa época que essa tal liberdade tem um custo. E alto. Responsabilidade é o preço. Pelas decisões, pelas escolhas mal feitas, pelo caminho que optar seguir.

Ah, as escolhas... Como são difíceis. E como despendem energia. Roubam o sono, a tranquilidade. Você pensa, analisa, repensa, pára de pensar, isso cansa. Retoma, não há jeito. É com você.Você e seus botões, você e seus princípios, você e suas convicções, você e seus medos, você e suas contradições, você e seus limites. Você com você mesma.

Medo do futuro. Você tenta se concentrar, aproveitar o presente. Afinal a vida não pode ser economizada para amanhã. Vida é o que acontece enquanto você faz planos para o futuro. Carpe diem! Bonito, verdadeiro. Se alguém conseguir viver isso plenamente pode me ensinar como. Como não pensar no amanhã? Como não se preocupar? Como não pensar que suas escolhas, certas ou erradas serão determinantes? O que é certo? O que é errado?

Mas o medo é natural, ele também é responsável pela preservação da raça humana. Deixa o homem em estado de alerta, ensina prudência, cuidado, bom senso. Só é ruim quando é paralizante.

Num outro extremo ele também pode ser estimulante. Você o teme mas o deseja. Na mesma intensidade. Ele te dá prazer. Interessante. “A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo...“ (Cecília Meireles). A terra firme, segura e sem medos é um espaço pequeno demais para seus sonhos.

Liberdade de escolha... Ainda que te provoque indecisão. Ainda que por algum momento você deseje não possui-la. Ainda que te provoque o medo. Ainda assim vale a pena.

Medo. Ele tem me feito companhia nos útimos dias me levando a questionar o sentido da palavra liberdade. Estou me aventurando no precipício. É noite e frio. Mas a terra firme há tempos não mais me seduz.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Momentos especiais

Sou mulher de riso fácil e de choro mais fácil ainda. Emoções em profusão... palavras, gestos, atitudes, cenas, sons, música, poesia. Tudo me toca. Emoção que se materializa em lágrimas, sem vergonha, sem contenção. E nos últimos tempos elas têm sido fartas. Razões não me faltam. Tenho conhecido pessoas especiais e vivido momentos igualmente especiais. Momentos repletos de muita ternura e sensibilidade.

Pessoas que têm me oferecido momentos felizes, pequenos espaços de tempo que serão guardados em meu arquivo de lembranças como tesouros valiosos conquistados sem luta, sem esforços, sem armas. Apenas uma moeda de troca: amizade... desinteressada, verdadeira, sincera.

Momentos, frações de tempo que poderiam simplesmente transcorrer, aqueles como tantos, passados e não vividos. Passados porque não nos envolvemos, não usufruímos, não vimos beleza. Passados tão somente porque era preciso passar. Ora, uma obrigação de quem está vivo. Então, consumidos pela ansiedade de cumprir esse trajeto, esquecemos de olhar para o lado. Não vimos flores, não ouvimos o canto dos pássaros, não sentimos o cheiro da chuva nem percebemos a brisa enviada especialmente para refrescar nosso corpo já cansado. E passamos. As vezes dias, as vezes anos, as vezes uma vida inteira.

Momentos que poderiam ser apenas mais um minuto, uma hora, um dia, um mês no nosso relógio biológico, mas que tornam-se inesquecíveis pela intensidade de sensações que comportam e pelo sentimento mais nobre e humano que vivemos. O amor.

E é pra esses amigos que escrevo. Que me perdoem os antigos. Estes já sabem o quanto são importantes na minha vida. Dedico aos amigos que fiz há pouco tempo estas linhas em especial à uma amiga, Janete. Uma pessoa linda de alma ainda mais bela que esta semana mostrou-me através de suas lágrimas o quanto tornou-se especial em minha vida. Acredito sinceramente que já nos conhecíamos, só não havíamos ainda, sido apresentadas. A vida encarregou-se de cruzar nossos caminhos.

Especiais são nossos alunos, especial foi nosso trabalho, especial foi nossa parceria. Mais que isso, especial foi a amizade que nasceu entre nós.

À todos que me enviam afeto, carinho, amizade, emails... Aos que abraço podendo sentir o atrito e o calor de seus corpos e àqueles a quem envio abraços em bytes, mega bytes. Muito além de fios, cabos ou ondas há uma conexão de sentimentos e afinidades superando barreiras de tempo e espaço. Sintonia, vibração e energia traduzida em amizade.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pela Janela

Olhou pela janela
Viu o rio, a bola
e a balança de corda.

Olhou pela janela
Viu o menino
que beijava a pedrinha
e jogava para dentro do seu quarto
Sempre que passava.

Olhou pela janela
O moço também olhou.
Se encabulou...
Fehou a janela.

Olhou pela janela
Se a chuva não passasse
Estragaria a festa...
Justo no dia do seu casamento.

Olhou pela janela
Do lado de fora do hospital
A freira admirava a beleza
do seu jardim
Olhou para o lado
Encheu os olhos ...
Ele era lindo
E a sua cara.

Olhou pela janela
Viu a criança que brincava
e inventava...
Sorriu...
Olhou pela janela
Viu o rio, a bola
e a balança de corda...

Olhou pela janela...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Composição

Há no poema poucas certezas
E um baú repleto de contradições...
Nele habitam dois hemisférios
um lógico, outro sensível
Em guerra, digladiando-se...

Há no poema uma noite estrelada
brisa suave cheirando a jasmim
Entre versos, tempestade
fez-se fúria, destruição.
O mesmo de outrora,
traduzido em dor
Agora mais tênue,
carrega lembranças,
dissipando-as, redimindo-se...

Há no poema labaredas e chamas
Magma e lavas...
alimentando sensações,
destruindo sentimentos.

Há no poema liberdade e algemas
Grades cerradas
cárcere, solidão
desejo incontido,
procurando entre as letras
alívio, inspiração.

Há no poema palavras soltas
e expressões sem tradução.
Há versos de rima imperfeita
e versos de rima mal feita
desejando ser poesia.

Há no poema um pouco de vida...
Há no poema um pouco de mim...

sábado, 11 de outubro de 2008

Porque eu prefiro com emoção

Viagem tranquila, pista bem sinalizada, asfalto em boas condições, automóvel revisado, os carros trafegam tranquilamente, não há curvas nem aclives. Você praticamente enxerga seu destino. Perfeito?

Agora tente imaginar uma vida assim. Perfeita também? Nem tanto. Talvez ela se tornasse uma monotonia "insuportavelmente insuportável", previsível demais eu diria. Prefiro trafegar por estradas mais sinuosas, ainda que com o risco de algum acidente. Também posso correr o risco de me surpreender... E isso é o suficiente para não fazer nenhuma questão de uma vida totalmente estável. Estabilidade financeira está de bom tamanho para usufruir a vida de uma forma um pouco mais tranquila. Nenhuma outra variante.

Há quem diga que a estabilidade que mais devemos perseguir é a estabilidade emocional. Concordo em parte. Apesar de a gente correr pro analista antes de um mínimo sinal de surto, estas são fases extremamente ricas em auto-conhecimento e aprendizado. Grandes lições que não nos seriam ensinadas senão dessa forma. Eis a metáfora do equilíbrio na corda bamba. Verdadeiras evoluções nesse grande espetáculo circense que é a vida.

Uma vida morna. Estabilidade não rima mas me soa como. E morno pra mim, só banho, e de vez em quando.

Nem união estável precisa ser necessariamente assim tão "estável". As vezes é preciso sacudir, balançar as estruturas...Devo confessar, eu gosto das fases de instabilidade. Se não pode evitá-las, tire proveito. Digamos que eu prefira o conceito de mutação ao de permanência. Corre-se o risco de que cada um vá para seu canto, mas também corre-se o risco de uma reviravolta na sua relação. Continuo achando que o pior risco é não correr risco algum e ainda achar que é feliz.

Viver tem que ser algo mais perturbador. Algo que provoque os sentidos, que nos faça experienciar emoções. As mais diversas...Quem vive falseando emoções ou guardando-as em seu baú interior como peças de roupa que nunca teria coragem de usar, corre o risco de vê-lo transbordar ( e aí sim, é surto na certa) sem nunca as ter experimentado, sem nunca poder ver-se belo, feliz ou ridículo, de poder rir de si mesmo ou sentir-se um idiota... qualquer coisa, ou apenas um ser que se permitiu viver de forma mais intensa ou ser algo mais do que simples aparência.

Enquanto viver estarei aprendendo. Portanto, não evite minhas quedas, deixe que me esfole o joelho, que tatue o corpo com hematomas, que aprenda a me levantar. Se a queda for brusca demais, me ofereça sua mão, seu ombro, seus ouvidos, ou me matricule numa escola de circo.

E me faça um favor, não me peça pra desistir nem pra me conformar. Me deixe ser mais, mas não estranhe se em algum momento eu quiser menos. Só desconfie se, por algum instante, eu desejar algo, estilo mais ou menos.

sábado, 4 de outubro de 2008

Minimalismo

Não acreditava mais no amor.
Resolveu subtrair...
Menos paixão
menos sofrimento
menos desilusão
menos amargura
menos surpresas
menos decepção
menos alegrias
menos traição
menos desavenças
menos felicidade
menos sentido
menos vida
menos emoção.
Nada mais restou,
transformara sua vida numa equação incompleta.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Das coisas que não vivi

O beijo que não roubei
o baile que não dancei
a paixão que não declarei
o amor que não vivi,
o arrepio que não senti
Um tudo que virou nada.
Escrevi...
declarações,
paixões,
dores,
amores...
Letras jamais lidas
sensações jamais entendidas.
Menti...
Que sentia o que não sentia
Que não sentia o que sentia
Fingi...
Que sua presença não me roubava o sossego
Que sua ausência não deixava saudade
Endureci...
Economizo lágrimas...
Poupo minha sensibilidade.
Aprendi
Que a gente se arrepende do que não faz
se arrepende também do que faz...
Esqueci
Não quero lembrar...
Vivi
e me perdoo por tudo que não me permiti.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Voltas

O mundo dá tantas voltas que por ora não estou conseguindo pensar... estou tonta.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Decepção

Trazia no peito uma mágoa insistente, e como doia, e como fazia sofrer... As vezes ela até dava uma trégua, mas em dias e que a cabeça se via livre pra pensar, ela voltava... latente, pungente.

Saudade dói, tristeza dói, desprezo dói, ficar longe de alguém que a gente gosta dói... mas de todas as dores, acho que a dor que dói mais é a dor da decepção, porque decepção é uma dor sem esperança, é uma dor que perdeu a razão de existir. É uma dor que se descobre absolutamente desnecessária. Mas mesmo assim ela dói. O pior é que você tem consciência que ninguém merece aquele sentimento, muito menos você e mesmo assim você sofre.

Decepção é uma dor devastadora... uma ventania, um ciclone, um tornado que passou, derrubou seus castelos de areia, carregou seus sonhos e destruiu todas as suas fantasias.

Decepção é a dor do engano. Você idealiza, imagina um ser real. Quando se dá conta, criou um personagem de um conto de fadas e o pior, nessa narrativa ele é o vilão. Inevitável. Ela começa a latejar.

Decepção é uma dor sem motivo, sem pra que e sem por quê. O tratamento é prescrito em doses homeopáticas à conta gotas. Tratamento as vezes longo, contra decepção só existe um medicamento e se chama tempo. As vezes ele não elimina todos os sintomas, mas os suaviza ou te ensina a conviver equilibradamente com sua dor, de forma que você reserve a ela um lugar cada vez menor no seu coração.

Agora quando a dor lhe abarca o peito ela olha para o relógio e para o futuro, senta-se e espera... ela sabe que o tempo vai passar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Apenas versos

São versos preguiçosos
Palavras sem intenção...
São letras que se embalam na rede
Sem por quê, sem tempo, sem razão...

São versos manhã de domingo
De dias ensolarados
Tal qual os pássaros do alpendre
Não cantam eles porque vivem
Vivem também porque cantam,
E porque cantam, encantam...

São versos de fim de tarde
Subversos...submersos
imersos em sua própria arte
Versos de sonhos diversos.
Versos que acompanham as nuvens
Caminhantes sem direção.
São apenas pensamentos...
Versos órfãos de razão.

Versos andarilhos
Que buscam apenas...
expressão, vazão, emoção.

São versos irresponsáveis
Palavras sem compromisso
Versos vagabundos,
vagando sem pretensão...
Porque são apenas versos
Versos que quando se encontram
Descobrem sua razão...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Despindo-se

Aos poucos ele vai tirando a roupa, as peças vão caindo...Eu babando, olhos estáticos como se quisesse imortalizar aquela cena, digna de ser e eternizada numa pintura e emoldurada num quadro. Sem preconceitos nem pudor, ele se mostra por inteiro. Ele chora e eu consigo ver sua alma.

As lágrimas vertem de seus olhos deslizando insistentemente pela face bem torneada, denunciando toda a fragilidade de um menino no corpo de um homem. Ele ainda se permite ser criança, eu me permito emudecer e apreciar.

Quando um homem chora, ele fica nu, porque homens costumam usar armaduras. São cavaleiros medievais prontos para o combate. Elas os protegem, os tornam menos vulneráveis. Alguns se acostumam de tal modo com ela que não as tiram nem pra dormir, o corpo acaba tomando a forma da vestimenta de ferro que os envolve, sentem-se de tal forma seguros que não conseguiriam mais sobreviver sem elas. Aos poucos, vão ficando tão endurecidos quanto o metal pesado que os reveste o corpo.

Quando um homem chora ele rompe as armaduras e descobre o quanto a sensação de liberdade é mais intensa que a de proteção. Ele lança-se ao chão, joelhos em ângulo e um pedido de trégua.

Lágrimas são o mais perfeito dialeto da alma. É a forma mais sublime de se falar sem pronunciar coisa alguma. Lágrimas são sempre uma catarse. É na hora que choramos que a expressão "lavar a alma" faz seu maior sentido.

Se para um homem, a visão de uma mulher chorando os faz sentir sob areia movediça, para uma mulher, a visão de um homem nessas circunstâncias desestabiliza ainda mais. Mas essa é uma daquelas experiências que quero poder vivenciar infinitas vezes. Quando os olhos pasmam e as palavras não saem, o corpo fala por si e eu permito despir-me também.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pequenos Prazeres...

Graciliano Ramos definiu a arte de escrever como o ofício das lavadeiras...Aquelas que lavavam a roupa a beira do rio, batendo-as na pedra até desprender-se delas toda a sujeira. Um processo lento, simples e que exige dedicação. Segundo ele... "A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

Dentre os prazeres que tenho na vida, um especialmente exerce sobre mim verdadeiro fascínio, eu me rendo aos seus encantos... Entre as letras eu percorro mundos, volto a ser criança brincando de fazer mágica, me emocionando com as fadas...

Elas sempre me acompanharam... ocuparam meu tempo, me divertiram ou me emprestaram sua companhia em meus momentos de melancolia e solidão.

Houve tempo em que desacreditei do sonho...me perdi. Um caldeirão prestes a explodir, borbulhante, efervescente...Terreno fértil, lápis, papel e muitas idéias suplicando extravasar... Pólen em fartura fez germinar belas espécies: gerânios, petúnias, lírios tulipas, antúrios e orquídeas. Elas hoje me enebriam com seu perfume e me faz feliz a descoberta que estou aprendendo a cultivá-las. Entre letras, leituras, escritos, poesia e beleza, algumas revelações e o reencantamento pela vida.

Tenho especial admiração por escritores que me apresentaram ao mundo da fantasia, aqueles que me fizeram entender e valorizar a beleza e o mistério das coisas que não existem. Tantos... Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Monteiro Lobato, Eva Furnari, Cecília Meireles, Tatiana Belinky, Roseana Murray, outros e mais outros que minha memória engavetou e que não se abrem agora... Ainda hoje, a criança que mora em mim alegra-se ao deparar-se com eles e suas histórias fantásticas.

Foram muitas... lidas, relidas, contadas e imaginadas. Suas histórias que me ensinaram a ler, hoje me inspiram e me ensinam a escrever, assim como lavavam roupa as antigas lavadeiras à beira dos córregos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

As flores da minha infância

Elas pareciam um véu de noiva, daqueles bem longos que se desprendem dos vestidos e deslizam sobre os numerosos degraus das catedrais ou tomam todo o espaço do átrio das igrejas. Se a memória e a imaginação não me traem, esse é mesmo seu nome: véu de noiva, são flores miudinhas que escorregam suavemente pelos galhos em forma de cachos.
Hoje eu as vi, não são tão comuns, acho que pela primeira vez depois que mudei-me da vila para a cidade... E daí lá se vão alguns anos. Elas não tinham a mesma beleza de antes enfileiradas ao longo de uma grande alameda, ladeando a estrada...mas o cheiro era inconfundível. As lembranças inevitáveis.
Elas tinham também cheiro de sítio, de vó, de infância, do chão batido e poeirento, da água do rio, da ponte, das macieiras floridas e da corda da balança, do sótão escuro, do porão úmido cheirando a mofo e da pipa de vinho que ficava num canto do porão da velha casa de madeira que meus avós construiram e que resistira bravamente ao tempo, até ceder aos golpes do machado.
Algumas lembranças povoaram a minha cabeça.
Revi o tanque onde minha vó lavava roupa e por onde escorria lenta e constante a água que vinha direto da fonte. Lembrei dos sapos que coaxavam debaixo da madeira que cobria o chão da construção e das inúmeras vezes que pedi que meu avô as erguesse para que pudesse ver a grande quantidade de anuros que habitavam aquele espaço e, mais tarde, a minha imaginação.
Revi minha avó sentada atrás do fogão fazendo longas tranças com palha de trigo e os chapéus empilhados no canto da despensa.
Quase senti o cheiro das cobertas confundindo-se com o das flores, quando lá eu dormia e sentia uma coisa difícil de entender naquela época, abraçava-as e ao mesmo tempo me envolvia nelas, sentindo aquele calorzinho gostoso e aquela paz de quem vive sem ser apresentado ao dia de amanhã.
Tem momentos que a gente vive com tanta intensidade porque na verdade a gente já sabe que vão se transformar em saudade. Ou seria o contrário?
Acabei de entrar em terreno desconhecido, difícil falar de saudade. Como dizia o poeta... saudade é uma palavra esperando tradução. Alguém se habilita?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Poema onomástico

Para quem meus posts estavam muito profundos, um profundamente raso... :-)

Tem nomes que sempre são...
Todo Zé é José
Todo Chico é Francisco
Tonho é sempre Antonio
E Tião, Sebastião

Há outros que podem ser...
Suzi quem sabe, Suzana
Adri, talvez Adriana
Guto é quase Augusto
Toda Tati é quase Ana

E há aqueles que nem sempre são...
Ariel tem um pouco de Lúcifer
Anunciação as vezes se cala
Aparecida sumiu várias vezes
Ariana pode ser virgem
Margarida tem alergia a pólen.
Ágata as vezes se ofusca.
Rosário é ateísta
E Generosa, egoísta.

Aurora gosta da noite
E Domingo gosta do sábado.
Angélica é diabólica.
Constante já chegou no fim
E Amado nem é tanto assim.

Norma é uma desregrada
Branca é bronzeada.
Amador é profissional
Benigna as vezes é mal
Das Dores é muito saudável
Pilar, muito sensível
Eugênio é muito simplório
Albino tem pele morena
Flora adora animais
Bárbara nem sempre é cruel
Assim como nem toda Isa
tenha que ser Isabel

Graça não tem senso de humor
Remédios é homeopata
Vitória sofreu grandes perdas
Plácido ta sempre nervoso
Só Lindomar é mesmo maravilhoso.

domingo, 31 de agosto de 2008

Enquanto isso no país dos normais...

Todo dia ele cumpre o mesmo ritual. Chega, dá uma volta no pátio sem nunca mudar a direção. Não se apressa, nem altera o semblante. Ele não se encaixa em nenhum padrão de normalidade, mas é feliz. Vive num mundo que é só seu e no qual imagino que nunca poderei adentrar, muito menos entender.

Aos olhos de alguns ele vive enclausurado em seus próprios pensamentos, os meus ousam ver nele uma pessoa mais livre do que muitos.

A mãe passou a vida a perambular pelas ruas mendigando esmolas e algumas carícias dos bêbados que descançavam nas praças da cidade.

Ele, viveu o infortúnio de ser mais um abandonado, vivendo das migalhas da sociedade até ser acolhido e ter uma vida decente, embora já fosse tarde, tarde demais para ousarem fazer dele uma pessoa "normal".

Mas é feliz. Ele não se preocupa se a roupa que veste está na moda, se os cabelos brancos denunciam sua idade, se seu comportamento vai ser aprovado, se vão achá-lo um tolo feliz, um pobre coitado, se vão rir do seu jeito de dançar, se vão achar estranho que fale dele pra ele mesmo... Ele não entenderia por que nessa sociedade tão organizada e normal nem sempre se pode ser autêntico.

Ele não segue fórmulas prontas de comportamento. Pra falar a verdade ele nem as conhece. Inventou um jeito próprio de viver e vive num eterno processo de desnormalização como se no mundo só existisse uma forma de ser: a sua. Talvez ele prefira não ser mais um, genérico, normal ou normótico. De cara limpa, desfez-se das máscaras e encontrou a fórmula para uma vida saudável e feliz.

Enquanto isso no país dos normais, seres humanos inteligentes, livres e iguais assistem a belíssimos espetáculos teatrais! Bem vindo ao país do "faz de conta."

Faz de conta que eu sou como você, que gosto de festas e de glamour, que eu tenho dinheiro pra manter as aparências, faz de conta que eu me mantenho firme nas minhas verdades e fiel às minhas convicções mesmo quando minhas idéias não estão de acordo com as do chefe da minha empresa, faz de conta que a minha boca fala exatamente o que meu coração sente, faz de conta que que não costumo fazer coisas só para agradar e "fazer média" com você, faz de conta que sou sempre equilibrado, que nunca perco o controle, que eu não uso máscaras exceto nos bailes à fantasia. Faz de conta que...

Faz de conta que eu sou feliz assim.

sábado, 23 de agosto de 2008

Não me pergunte quem sou

Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos. Essa frase foi dita pelo grande escritor José Saramago em seu livro Ensaio sobre a Cegueira. De fato, definir-se não é algo fácil. Elaborar um conceito sobre si mesmo, mais uma daquelas missões impossíveis. O ser humano não é uma coisa fabricada com esta ou aquela finalidade. Não somos um produto, não viemos com rótulo e manual de instrução. Nós simplesmente existimos e não sabemos ao certo a que viemos nem para que servimos e muito menos quem somos. Definir significa determinar a extensão ou ou limites, talvez por isso seja tão difícil, afinal somos seres inacabados.

É no caminho que a gente vai se descobrindo, se conhecendo e se re-conhecendo. É no caminho que os eus: meus, seus, nossos vão se desvelando e se revelando.

Gosto de ler os perfis das pessoas nas redes sociais na internet. É interessante como algumas pessoas se definem. Há sempre aquelas que procuram uma frase de algum escritor famoso que lhe empreste suas palavras para se auto definirem.

Tem também aquelas que escrevem um artigo de jornal, dizem tudo, menos quem são.

Há outras que até tentam, descrevem-se superficialmente, alguns gostos, preferências, comportamentos...

Alguns se definem dizendo que fazem isso ou aquilo, que exercem essa ou aquela função.

Mas desconfio que muitas delas também não saibam quem são.

As vezes a gente até pensa que se conhece até o dia em que em que algo acontece e agimos de uma forma totalmente inesperada, despersonalizada, acabamos conhecendo uma outra pessoa. É difícil aceitar, os amigos comentam, você mudou. Cadê aquele ser que até bem pouco tempo habitava seu corpo? Talvez viajou com uma passagem só de ida ou quem sabe, apenas mudou de endereço. O fato é que ele não está mais ali. Muito prazer, essa é a sua mais nova versão.

É, acho que é mais ou menos isso, somos feitos de versões. O que não significa que a última seja melhor que a anterior. São tentativas feitas de acerto e erro, as vezes mais erros do que acertos, tudo bem, se eles te servirem para alguma coisa no futuro, já terá valido a pena.

Mas não desista. Saber quem somos é importante. Pratique o auto-conhecimento. Passe as férias, um final de semana, um dia, uma hora em companhia de si mesmo. Faça reiki, meditação, ioga... Mas não seja tão crente, duvide um pouco de você, seja um pouco cético, pra que suas certezas não o tornem uma pessoa fechada em suas próprias percepções.

Se descobrir, me conte, vou gostar de saber das suas descobertas.

Eu continuarei tentando, talvez o tempo e a experiência de vida elevem minha capacidade de auto definição, mas temo que nem mesmo a senilidade dê conta disso, minhas últimas descobertas sobre mim me deram conta que de mim ainda conheço pouco. Por isso não me pergunte quem sou. Eu ainda não sei.

Por enquanto me defino nas palavras de Clarice Lispector: "A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais..."

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O Grande Ditador

Ele manda, desmanda, faz e acontece. Não responde à lei, é impulsivo, egoísta, tirano, déspota. Pretende o comando, o totalitarismo, o controle.

Tem tentado à todo custo reprimir meus intentos mais racionais. Quer me tornar um ser movido a sentimentos, roubando-me a capacidade de pensar logicamente, de agir com inteligência.

Ok, eu me rendo, segundo o adágio popular parece que você sempre sabe o que faz. "Siga seu coração" é o que todo mundo fala quando a gente se encontra meio sem rumo, como se você sempre soubesse o que faz. Façamos um trato, um acordo. Você é ainda imaturo, um coração movido à sentimentalismo, à instintos, gosta de emoções fortes, mas depois não dá conta, não assume as consequências, acaba sobrando pra mim. Então, eu te ouvirei, sempre, mas vou ensinar-te a sentir de forma inteligente.

Você precisa parar de querer mandar em mim. Não esqueça que como boa ariana eu também tenho vontade própria, sou independente, totalmente avessa ao abuso e às imposições, não vou aceitar um coração autoritário me dizendo o que devo ou não fazer.

Li uma frase há algum tempo atrás, não me recordo quem disse, que fala que a vida é uma comédia para os que pensam e uma tragédia para os que sentem. Devo assumir que tirando o caráter extremista, eu concordo em parte com ela. Mas antes que pensem que sou uma insensível devo dizer que eu tenho aprimorado meu conceito de inteligência emocional e tentando elevar meu QE ( quociente emocional) tido para alguns estudiosos como mais importantes que o próprio QI.

E que essa minha aparente dureza seja perdoada, porque metade de mim é o que eu sinto e a outra metade é o que eu penso.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Senta que eu vou contar...

Seu Zampieri, como era conhecido na vila em que morávamos, registrou, casou e lavrou certidão de óbito de boa parte dos dois mil habitantes que lá moravam. Fazia um bico como escrivão, já que seu amor maior era pela terra. Não se importava quando lhe pediam um fiado, fingia acreditar que amanhã eles voltariam com o dinheiro, nunca mais voltavam... seu coração mole deixava por isso, uma caridade aos menos afortunados.

Por causa desse ofício e pelo trabalho como entendente distrital, sempre me levava junto nos casórios no interior e na distribuição de vacinas na época de campanha. Me pegava pela mão e lá íamos nós. Eu ajudava, ele dizia que era sua secretária. Fotos, tenho poucas. Apenas as que tirávamos por ocasião dos casamentos, aproveitando o fotógrafo que só era visto por aquelas bandas em dias de festa.

Lembro-me das tardes chuvosas, em que ele não podia ir para a lida do campo e deitávamos eu e ele, eu pedia que me contasse uma história e ele inventava. Algumas eram tristes, acho que eram suas próprias histórias de vida, outras ele devia mudar o desfecho para terem um final mais feliz.

Meu pai não foi ninguém, mas construiu um império diante do pouco que sempre teve. Homem de visão, não perdia dinheiro nos negócios.

Gostava de jogar cartas no boteco da esquina, minha mãe fazia ir chamá-lo quando envolvido com o jogo, esquecia-se que tinha casa pra voltar. Eu ia e ele me dava um doce, daqueles que vinha uma goma grudada num garfinho de plástico. E voltávamos de mãos dadas pela rua escura iluminada apenas pelo poste e pelas estrelas.

Homem severo, me educou com a rigidêz de um oficial, implacável, silêncios indecifráveis...Minha mãe sofria, eu também.

Meu pai falava com os olhos. Seus olhos me davam conselhos, reprovavam meu decote, me educavam em silêncio.

Ironia...hoje seus olhos pouco falam, tomados que foram por uma retinopatia diabética que covardemente roubara boa parte de sua visão.

Quando sentada na mesa da cozinha eu fazia as tarefas da escola, ele chegava, batia de leve minha cabeça na mesa e dizia: " Cheirando a mesa !?" Nesse ato eu ouvia, embora não pronunciasse, ele dizendo que me amava.

À noite, quando a gente cansava de assistir um programa em que só passavam umas listras horizontais pra cima e pra baixo na TV a gente ia dormir escutando Zé Betio... "Fala Zé! Falo, falo sim!"

Sua benção pai... Desus te abençoe filha! E a gente dormia feliz...

Um dia, debaixo de uma tempestade ele terminava de guardar uma safra recém trazida da lavoura, quando armou-se um temporal, o vento forte ameaçava derrubar a velha casa da fazenda. Não me lembro ao certo por quê, mas ele tirou- me pela janela, debaixo de uma chuva torrencial, deixando em minha camiseta branca as marcas de suas mãos embarradas.

Estas saíram depois de lavadas, muitas permanecem, gravadas na memória e no coração.

Lembro-me de uma canção da época que dizia mais ou menos assim: " Pra não judiar meu sentimento proibi meu pensamento de ficar campeando saudade"... É isso.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Entre o caos e o cósmico

Não sou nenhum referencial de organização. Já tentaram me encaixar num modelo socialmente aceitável, esforços vãos...
Vivo entre o caos e o cósmico, equilibrando-me entre meus embates mentais e na profusão dos meus pensamentos, que ora se ocupam do trabalho, ora lembram da família, das pendências a acertar, das faturas a pagar...penso no futuro, programo, faço planos, estabeleço metas, leio emails, noticiários... Um brainstorming de idéias que insistem em me manter com os pés num lugar e a cabeça em outro.
Inevitáveis: "Desculpe-me, mas... que foi mesmo que você disse?"
Fácil ser organizada quando se tem apenas uma casa pra limpar e um filho pra levar à escola.
Fácil, quando seu trabalho é restrito às quatro paredes de uma sala de aula.
Às favas com tanta organização, prefiro meu mundo assim...
Não sou dada à modelos padronizados seguidos inquestionavelmente, eu os abomino se não estão de acordo com os meus princípios. Minha realidade é muito mais subjetiva. Não gosto de pré-determinismos. Ordem em demasia faz mal, me causa enxaqueca, baixa minha auto estima, tolhe a minha liberdade, me torna inflexível, me faz sentir um ser comum, igual, muito normal...
Não quero a ordem perfeita do universo. O universo é cósmico, os astros extremamente alinhados, seguem sua rota pré definida, pré determinada.
Eu? Eu não faço questão de tanta rigidêz... Só se for a perfeita ordem e sintonia da orquestra de Yanni. Me deixem viver no meu mundo, é nele que eu quero morar. Prefiro a vida retratada por Fernando Pessoa... Porque navegar é preciso, viver não é preciso... No livro da vida que estou escrevendo viver é sinônimo de emoção, não de precisão.

sábado, 2 de agosto de 2008

Etc & Tal

Ainda não ia à escola, não lia nem escrevia, mas lembro-me rabiscando cadernos que meu pai trazia pra mim. Os rabiscos tentavam imitar letras, com eles eu inventava histórias...
Meu pai pedia que eu os lesse e eu lia.
Enchi cadernos com os estes rabiscos...
Muitas histórias eu criei, muitas histórias eu vivi.
Cresci, mas continuo rabiscando. E nestes rabiscos eu silencio minha alma, acalmo meu pranto, vivo minha alegria.
Para todas as outras coisas, porém não menos importantes que fazem parte da minha vida.
Este blog é meu caderno de rabiscos...

Créditos da Imagem: Mimi
"E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…” (Vinícius de Moraes)