Um hálito de música ou de sonho soprava sobre o vácuo das lembranças dançando em sua mente ao ritmo de Stones. Mirou o nada buscando o espelho em que deixara perdida sua face.
Entre os fantasmas que rondavam-lhe nenhuma pista de que infinito aqueles olhos aperolados estariam mirados.
O corpo, boêmio de sua matéria, repousava. O pensamento, à mercê de sua vontade insistia em mais uma vez, visitar-lhe. Guardava ainda na memória mais imediata o trajeto que tantas vezes percorrera, vindo agora, de súbito da direção da prateleira empoeirada como já era tempo de estarem aquelas imagens que lhe absorviam a alma.
Decidiu dar fim àquele assédio. Um taça cheia de desejos, sensações, frases, presentes, discos, beijos... sorvidas gole a gole. Um a um desejava que se volatizassem . Grudava em sua pele, seu cheiro; em sua boca, seu gosto. Sentia-se impregnada como o álcool que circulava sobre suas veias. O peito, uma caixa preta. Embriagada partiu para o último gole... Entre os fantasmas que rondavam-lhe nenhuma pista de que infinito aqueles olhos aperolados estariam mirados.
Apagadas estavam as luzes dos postes. Apagada estava sua alma. Nem as estrelas ousavam brilhar.
Era escura a noite. Era amargo o doce e solitário Bordeaux.
Por melhor que seja o Bordeaux (os os Bourgognes que eu prefiro), na solidão sempre tem gosto de vinagre
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