segunda-feira, 27 de abril de 2009

Viver [no tempo mais que perfeito]

Ando à mercê do tempo. Se ele sabe conjugar seus verbos, então eu sento e aprecio a lentidão das coisas de fora, ainda que cá dentro, elas passem à velocidade da luz. Mas é o tempo da espera. Da poeira que aninha-se ao solo depois da chuva, da flor que perde seu perfume para ganhar sabor. São meus dias de outono. Não há perdas nem ganhos. Há o aprendizado. É tempo de espera e não há enredo. Mas eu penso que os aguardamentos as vezes cabem certinho no meio dos nossos desejos confusos. Então eu calo no fundo da alma todas as minhas urgências e me dou de presente esse estar em mim, e permaneço assim, até que toda energia (meu sol particular) retorne à morada do meu corpo. É preciso entender os sinais do tempo. E só os entende quem aprende a respeitá-lo. E quem assume os seus próprios limites. Não idolatro minhas forças nem silencio os meus medos. Mas tenho sentido meus dias muito parecidos. Até meus versos andam se parecendo demais e isso me provoca medo. Mas é ele também que me faz experimentar a contra mão, atravessar o lado de lá para sentir o vento que não sopra do lado de cá. É bom ousar. E esta sensação só é compreendida por quem descobre que o maior prazer da vida não é sentir-se confortável, é sentir-se vivo. Uma sensação de gozo infinito que faz a gente deslizar pelos dias como se fossem uma brincadeira gostosa ou um piquenique na praça. É que em mim não cabem as certezas, nem as previsões. Quem se preocupa demais com as coisas pequenas não consegue vislumbrar as grandes...Mas meu desejo é um grito silencioso que não tem pretenção de acordar aqueles que preferem o cais ao movimento das ondas.
Alguém chamaria de tédio, eu prefiro pensar que faça algum sentido, até que a espera revele algo bom, ou uma nova espera semântica.

2 comentários:

  1. Nossa, Elis!!! Que beleza de texto e de reflexão lietrária sobre o tempo e a vida...
    "Então eu calo no fundo da alma todas as minhas urgências e me dou de presente esse estar em mim, e permaneço assim, até que toda energia (meu sol particular) retorne à morada do meu corpo."
    Adorei todo texto mas essa parte bateu mais forte.
    Esse "estar em mim" é essencial pra gente. nem sempre estamos em nós, somos o outro, ou estamos longe de nós... Essa percepção, sensação é essencial pra gente se encontrar em si e no mundo. Miga,s em exageros, eu lendo esse texto, senti ecos de Clarice... Sim, a Lispector, nem tanto no estilo, que é unico, cada um tem o seu, mas percepção de espaço e tempo e na forma de conduzir as palavras pelas linhas, produzindo sentido e sensações, não apenas poéticas. parabéns, cada vez mais perceptiva e poética. Um bom fim de semana, e que novos textos e reflexões nos traga deste teu estar em si... Um abração, Zé.

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  2. "E esta sensação só é compreendida por quem descobre que o maior prazer da vida não é sentir-se confortável, é sentir-se vivo."

    hummmmmmm...isto me faz sentir confortavelmente viva...

    bijok

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