quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Do amor e de amar...

duas canoas ancoradas na margem de um rioFoto: Marion Rupp

Amor é o que se aprende no limite. Amor começa tarde...
Fiquei com isso o dia inteiro.
Amor de olhares e encontros mudos. Amor de pele que encobre a alma. Não precisa de presenças, sobrevive do que já não é e do que restou, mas do melhor que misturou-se a cada um e do que fez a cada um melhor. É amor que crava entrelinhas nos olhos, mas que sabem-se reconhecidas, uma a uma... compreensão antecipada. Não escorre, absorve e vira seiva. E cresce com a mais remota chuva. Não é de palavras. É de semântica. É amor de catalogar memórias e cicatrizes [doer junto é a forma mais linda de amar]. E da ameaça do riso da hora em que as mãos, como algemas, sabem-se a pedra mais preciosa: resistente e frágil. Sabe-se o custo de cada sorriso. Por isso a profusão. Relógios pra que, se aprendeu-se a entender os sinais? Amor que é de mansinho, não porque há certezas do futuro, mas porque há o cuidado com cada minuto seguinte. Amor desse jeito que desinventa os mapas, porque sabe que sempre há um novo caminho. O vento não deixa o tamanho. Que sabe que sabe pouco, mas desconfia de tanta coisa...Amor que sabe que é preciso amar e amar mais, depois de ter amado.

Texto em itálico: Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

  1. Nossa, que texto mais lindo! Usando meu vocabulário do dia a dia mesmo, cara... Ficou foda!

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  2. Oi, Elis.
    Para usar um jargão meu do twitter, a respeito do comentário da Gabriela: "Endosso, adoço e repasso". Rsss
    É um texto lindo demais mesmo... E a cada releitura, como todos os tuas obras, nos traz novas surpresas, novas mensagens contidas em cada linha. Parabéns, amiga. Um abração! Zé.

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