sábado, 23 de agosto de 2008

Não me pergunte quem sou

Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos. Essa frase foi dita pelo grande escritor José Saramago em seu livro Ensaio sobre a Cegueira. De fato, definir-se não é algo fácil. Elaborar um conceito sobre si mesmo, mais uma daquelas missões impossíveis. O ser humano não é uma coisa fabricada com esta ou aquela finalidade. Não somos um produto, não viemos com rótulo e manual de instrução. Nós simplesmente existimos e não sabemos ao certo a que viemos nem para que servimos e muito menos quem somos. Definir significa determinar a extensão ou ou limites, talvez por isso seja tão difícil, afinal somos seres inacabados.

É no caminho que a gente vai se descobrindo, se conhecendo e se re-conhecendo. É no caminho que os eus: meus, seus, nossos vão se desvelando e se revelando.

Gosto de ler os perfis das pessoas nas redes sociais na internet. É interessante como algumas pessoas se definem. Há sempre aquelas que procuram uma frase de algum escritor famoso que lhe empreste suas palavras para se auto definirem.

Tem também aquelas que escrevem um artigo de jornal, dizem tudo, menos quem são.

Há outras que até tentam, descrevem-se superficialmente, alguns gostos, preferências, comportamentos...

Alguns se definem dizendo que fazem isso ou aquilo, que exercem essa ou aquela função.

Mas desconfio que muitas delas também não saibam quem são.

As vezes a gente até pensa que se conhece até o dia em que em que algo acontece e agimos de uma forma totalmente inesperada, despersonalizada, acabamos conhecendo uma outra pessoa. É difícil aceitar, os amigos comentam, você mudou. Cadê aquele ser que até bem pouco tempo habitava seu corpo? Talvez viajou com uma passagem só de ida ou quem sabe, apenas mudou de endereço. O fato é que ele não está mais ali. Muito prazer, essa é a sua mais nova versão.

É, acho que é mais ou menos isso, somos feitos de versões. O que não significa que a última seja melhor que a anterior. São tentativas feitas de acerto e erro, as vezes mais erros do que acertos, tudo bem, se eles te servirem para alguma coisa no futuro, já terá valido a pena.

Mas não desista. Saber quem somos é importante. Pratique o auto-conhecimento. Passe as férias, um final de semana, um dia, uma hora em companhia de si mesmo. Faça reiki, meditação, ioga... Mas não seja tão crente, duvide um pouco de você, seja um pouco cético, pra que suas certezas não o tornem uma pessoa fechada em suas próprias percepções.

Se descobrir, me conte, vou gostar de saber das suas descobertas.

Eu continuarei tentando, talvez o tempo e a experiência de vida elevem minha capacidade de auto definição, mas temo que nem mesmo a senilidade dê conta disso, minhas últimas descobertas sobre mim me deram conta que de mim ainda conheço pouco. Por isso não me pergunte quem sou. Eu ainda não sei.

Por enquanto me defino nas palavras de Clarice Lispector: "A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais..."

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