domingo, 14 de dezembro de 2008

Mulher bomba

Dessa vez ele fora longe demais. O casarão dos tatatataravós?!?! Ah não! Tudo bem que o apartamento fosse uma caixa de fósforos , mas já havia falado, estava escrito no manual da esposa sem crise que ele bem conhecia, (preservado algum infortúnio - que Deus a poupasse) só sairia dali pra um lugar mais decente. Claro, ele estava brincando! Bebeu um rabo de galo, era isso. Sempre soube do seu amor pelas coisas da família e pelas quinquilharias preservadas com veneração, mas definitivamente não, eu não tinha nada com isso.

O casarão que lhe trazia as boas lembranças da infância pra mim não passava de uma tapera velha, escura e mal assombrada, sinistramente decorada com uma parede inteira de velhos barbudos e velhotas corcundas enfileiradas, que pareciam me olhar como quem dissesse: "Olá tatatataranetinha, você ainda vai morar aqui!" Arre! Sai de mim!

Uma, mais do que as outras me causava arrepios. O olhar me atravessava a alma deixando os pêlos do meu corpo eriçados. Era uma velha com longas madeixas acizentadas presas desageitadamente num coque no alto da cabeça. O rosto retamado de vincos era uma textura de papelão amassado. A cabeça levemente abaixada e os olhos mirando à frente sabe-se lá o quê pareciam me procurar. Eu evitava-os. Mas, por vezes, os meus esncontravam com os dela, fulminantes. Sem fazer questão de manter o foco meu olhar dissipava-se, procurando algo menos nefasto.

Mas até a lembrança deles me causava pavor.

Manti-me concentrada no jantar, apenas ouvindo. Ele eufórico.

Empolgado, ele falava em como disporíamos os móveis e nos gastos que teríamos na reforma da varanda...
Quem ele pensava que era, passando assim, como um trator por cima dos meus sonhos! Sonhos que muitas vezes tivemos juntos!

Auto controle era uma das minhas qualidades. 1, 2, 3, 4, 5....
Ele sabia disso, estava me testando. Me esforcei.
_Baixa o som dessa TV por favor!
_Calma benzinho! Não teve um bom dia hoje?
Fiz de conta que não ouvi.

Ele continuou:
_Meu bem, você precisa ir lá ver. Quem sabe uma faxina... As paredes da sala estão tomadas de teias de aranha...

Continuei de costas, concentrada no meu picadinho.
_ Você também pode pensar numa decoração diferente para a sala, só não pode mexer nos quadros.
1, 2, 3, 4, 5... Explodi.

2 comentários:

  1. Delícia de conto, Elis.
    Mas seu auto controle só vai até 5?
    (risos).
    Adorei.
    Beijos

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  2. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK... o q posso dizer??? já sei!!!
    _ KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    só isso!!!!

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