sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ceifadora de Almas

"Por favor confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo." ( A morte)

Aproveito meus dias de ócio para por em dia a leitura de vários livros iniciados e abandonados na estante por pura falta de tempo. Esse fora presente, A menina que Roubava Livros, de onde extrai a citação anterior.
Eu tenho tentado, mas a morte pra mim, ainda e especialmente hoje é o retrato do assombro, da perplexidade, do estarrecimento.
Hoje ela me roubou um amigo da forma mais vil, estúpida, cruel, injusta e desumana que poderia ter feito. Eu até entenderia se ela chegasse mansa, sem sofrimento, longe do horror, dos hospitais, sem sangue, sem dor e quando estivéssemos entre as pessoas mais queridas. Mas hoje, ela preferiu chegar assim, como pode pedir então que ainda confie nela???
Hoje, para mim ela voltou a apresentar-se encoberta com um manto preto e um capuz carregando em uma das mãos uma gadanha e na outra uma foice.
Dizem por aí que a vida é um sopro. Não é. A vida é uma chama que arde. A morte é que é um sopro. Que apaga a chama deixando a gente perdido em meio à escuridão.
Tento buscar nas minhas crenças uma explicação satisfatória para acontecimentos como este. Segundo estas, muitos espíritos se oferecem em sacrifício para auxiliar outros, em processo de evolução mais lento, sanando assim, algum débito anterior e cumprindo dessa forma seu próprio processo de aprimoramento. Mas por ora, nem esse entendimento conforta.
Quando uma pessoa por quem tínhamos apreço se vai, com o tempo a gente aprende a aceitar a morte. Difícil é conviver com a tristeza. Conforta apenas constatar que enquanto vivera, fizera isso no sentido mais amplo da palavra. Intensamente. Mário Quintana uma vez escreveu: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." Tem gente que morre, sem nunca ter vivido.
Ficam na minha mente um série de porquês e uma constatação que só faz aumentar a minha dor: Na trajetória efêmera do relógio existencial, o nascimento e a morte estão bem próximos. Na vida, tudo é provisório. Inclusive nós.
Fica no meu coração uma dor e uma verdade: Morte é onde mora a saudade.
Uma última nota: os seres humanos me assombram. ( a morte)

6 comentários:

  1. Oi, Elis. Profunda reflexão sobre a morte essa tua. Concordo contigo que a morte que é um sopro. Pior é como Quintana escreveu, e vc citou. Pior ainda aqueles que morrem em vida para seus sonhos, vivendo uma vida emprestada que não a sua. São mortos-vivos e não sabem, repetindo sempre meticulosamente o mesmo ritual sem fé. Ixi, acabei filosofando poeticamente sem querer. Poeta sempre inspira poeta "sem querer querendo". Lamento a perde do amigo, em 2008, perdi grandes amigos e sei o que deves sentir.
    "Morte é onde mora a saudade", magnífico! Dá pra o início de um belo poema, apesar da dor. Penso que os poetas escrevem por conta dessa sensibilidade a flor da pele; e que a dor faz parte da escrita poética também.
    Bom,miga, feliz leituras, e bom findi. Aqui chove, e ao contrário de teu estado, é bem-vinda, pois aqui no extremo sul do RS, a seca imperava,e a chuva era necessária. Um abração!

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  2. Elis,
    Costumo pensar que encaro a morte com uma naturalidade muito maior que a média das outras pessoas. Alguns amigos que testemunharam a minha reação quando perdi meu pai, e, anos mais tarde, a minha mãe, chegam-me a descrever como frio. Talvez eu seja mesmo. Eu não consigo lidar muito bem é com a dor. É com a imagem de crianças feridas, de pessoas sofrendo das filas de (des)assistências médicas, de pessoas sofrendo humilhações por atitudes preconceituosas. Apesar disso, compreendo e me solidarizo com o seu sofrimento pela morte do seu amigo e aproveito para dizer que "A menina que roubava livros" foi o livro que mais gostei entre os que li no ano passado.
    Beijos.

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  3. Oi Zé! Obrigado pelo comentário. Acho também que muitas vezes a dor inspira mais do que a alegria.Uma forma de dar vazão, um grito em silencioso.
    Bom descanso pra vc também meu amigo.

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  4. Fred. Eu acho que o fato de aceitar mais facilmente a morte significa um maior amadurecimento espiritual. O desapego às coisas terrenas é sinal de aprimoramento. Hoje, já consigo entender muitas coisas que antes não. Na verdade eu não tenho medo da morte, tenho medo é de morrer. São coisas diferentes. Tenho medo é das circunstâncias que envolvem a morte. Principalmente quando se trata das pessoas a quem a gente ama muito. Esse caso que mensionei fora uma morte brutal e não teve esclarecimento nem coisa alguma que impedisse meu total estado de perplexidade.
    Obrigado pelas palavras, amigo.

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  5. "Dizem por aí que a vida é um sopro. Não é. A vida é uma chama que arde. A morte é que é um sopro." - Você é incrível!

    Sinto muito... por tudo.

    Abraços

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  6. Obrigado Claudemir. Bom ter sua amizade!
    Bjos

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